Há algumas semanas, o programa de televisão Fantástico estreou um novo quadro, o Planeta Extremo, onde o desafio dos participantes era participar de duas maratonas na Antártica: uma de 42 km e outra de 100 km. Ao término da primeira prova, um dos competidores, que não se adaptou ao uso dos óculos de sol da prova, apresentava graves queimaduras lesões oculares.
Isto porque esquiar, patinar no gelo ou fazer caminhadas em altitudes elevadas pode ser mais difícil para os olhos do que um dia inteiro na praia. “A neve potencializa o efeito dos raios solares, refletindo quase 80% dos raios do sol, enquanto a areia da praia reflete apenas 15%”, explica o oftalmologista Virgílio Centurion.
Há quase um século, os exploradores do Ártico forneceram os primeiros relatos dos efeitos adversos da radiação ultravioleta nos olhos. A cegueira da neve ou snowblindness é o termo empregado para descrever as queimaduras na córnea sofridas por muitos deles devido à grande exposição ao sol e aos reflexos da neve.
“Uma pessoa que se expôs ao sol da montanha pode sentir dor ocular intensa, apresentar olhos vermelhos, aparecimento de halos ao olhar para luz, edema palpebral, aumento do lacrimejamento. Esses sintomas podem levar de 6 a 12 horas para aparecerem. Dependendo da gravidade da lesão e do tratamento recebido, o escalador pode voltar a recuperar a visão em cerca de 18 horas. A superfície corneana leva em média de 24-48h para se regenerar. Mas, infelizmente, há casos onde a cegueira é total e permanente”, alerta Virgílio Centurion.
Para se proteger
A maioria das pessoas já sabe que os raios ultravioleta (UV) podem causar câncer de pele e outros problemas. Mas isso não é tudo. As pessoas não tem conhecimento sobre os danos que os raios UV podem fazer aos olhos. “No verão ou no inverno, as horas de exposição à luz solar intensa podem queimar a superfície do olho, causando uma condição temporária e dolorosa conhecida como ceratite. Ao longo do tempo, a exposição desprotegida pode contribuir para a catarata, assim como para o câncer das pálpebras e de pele ao redor dos olhos”, explica Virgílio Centurion.
A exposição aos raios UV também pode aumentar o risco de degeneração macular, principal causa de cegueira em pessoas com idade acima de 65 anos. Enquanto a catarata pode ser removida cirurgicamente, não há maneira de reverter os danos provocados pelo sol à mácula, área principal da retina.
Exposição sem proteção
A exposição ao sol sem a devida proteção ocular é um tema que preocupa os oftalmologistas cada vez mais. “É preciso investir em informação e em campanhas educativas para sensibilizar grande parte da população. A medida mais simples (e ao mesmo tempo desafiadora) é conscientizar a população sobre a importância de comprar um bom par de óculos escuros, com proteção UV. Preço e estilo não devem guiar esta compra. Há óculos baratos muito apropriados para fotoproteção e outros modelos bem caros que não oferecem proteção alguma”, diz a oftalmologista Roberta Velletri.
A exposição prolongada aos raios UV provoca danos aos tecidos da superfície do olho, bem como à retina e ao cristalino. “Mesmo assim, os órgãos reguladores ainda não encaram os óculos de sol como um instrumento preventivo de doenças oculares. E não há regulamentação sobre o nível de proteção UV que os óculos de sol devam oferecer. Portanto, diante de tantas ofertas no mercado, a proteção oferecida pelos óculos de sol pode variar e até mesmo ser completamente ineficaz”, alerta a médica.
Um critério que deve guiar a compra é olhar as etiquetas dos produtos e verificar se o par de óculos fornece pelo menos "98% de proteção UV" ou “98% de proteção contra raios UVA e UVB." Se não houver nada a este respeito na etiqueta, ou se houver uma mensagem vaga, tal como “proteção UV” ou “bloqueio da luz UV”, melhor não comprar, estes óculos de sol podem não oferecer proteção adequada.
A melhor defesa dos olhos é feita pelos óculos de sol capazes de "bloquear toda a radiação UV até 400 nanômetros, o que é equivalente a 100% de bloqueio dos raios UV”, explica a oftalmologista do IMO.
Escolher o estilo certo para cada tipo de rosto também colabora na proteção contra o sol. “O ideal é que os óculos de sol cubram as laterais dos olhos para evitar que uma luz difusa afete os olhos. Lentes envolventes, que abarcam todo o rosto são as melhores opções, mesmo que este estilo não seja o mais atraente. É recomendável evitar modelos com lentes pequenas, como os famosos óculos de sol de John Lennon”, explica Roberta Velletri.
A fotoproteção não está relacionada ao uso de lentes nos tons mais escuros. “Óculos de sol com lentes nas cores verde, laranja, vermelho, cinza e até trasnparente podem oferecer a mesma proteção que lentes mais escuras. Para evitar distorção de cores, prefira as lentes cinzas”, diz a oftalmologista.
“Se você é freqüentemente afetado pelo brilho do sol durante passeios de barco ou quando está esquiando, deve optar por lentes polarizadas, que bloqueiam as ondas de luz horizontal que criam o brilho. Mas lembre-se, a polarização em si não irá bloquear a luz UV. Certifique-se que as lentes oferecem também 98% ou 100% de proteção UV”, recomenda Velletri.
Se você faz muitas atividades ao ar livre, tais como vela, ciclismo ou jardinagem, deve considerar a compra de um par de óculos de sol com lentes de policarbonato, que são 10 vezes mais duráveis do que o plástico comum ou do que as lentes de vidro.
Evite comprar óculos nas calçadas
Em busca de proteção adequada, evite comprar imitações de grifes famosas das mãos de camelôs. “Um par de imitação que não ofereça proteção UV fará seus olhos sofrerem mais do que se você estivesse sem um óculos de sol. Procure adquirir o seu óculos de sol em locais apropriados”, afirma a oftalmologista.
E em se tratando de fotoproteção, não esqueça as crianças. “Eles podem usar o modelo do super-herói preferido, desde que as lentes ofereçam de 98 a 100% de proteção UV. Crianças com olhos claros são especialmente vulneráveis a danos do sol. A lesão ocular nas crianças é cumulativa, portanto, quando mais cedo a criança adquirir o hábito de usar óculos de sol, melhor”, recomenda.
Se a criança pratica esportes regularmente ao ar livre, é preciso considerar também a compra de óculos de proteção. “As lesões oculares são a principal causa de cegueira em crianças, e a maioria dessas lesões ocorre quando elas estão jogando basquete, beisebol, hóquei no gelo ou praticando esportes que envolvem raquetes”, conta a médica.
Teste o seu modelo antigo
Se você gosta muito do modelo de seus antigos óculos de sol e não deseja se desfazer deles, não deixe de testá-los, para saber que tipo de proteção eles oferecem. “Você deve levá-los a uma ótica com um medidor de UV. Este dispositivo pode medir a proteção UV de seus óculos e ajudar a determinar se você deve comprar um novo par ou não”, defende Roberta Velletri.
Cuidados também devem ser observados em relação às lentes de contato. “Elas devem oferecer proteção UV. Mas é preciso saber que apenas as lentes de contato não fornecem fotoproteção adequada, pois as lentes cobrem (e consequentemente protegem) apenas a córnea, deixando sem proteção a área branca dos olhos (conjuntiva) e a pele ao redor dos olhos)”, alerta a oftalmologista.
Há casos de pacientes idosos que têm crescimento da conjuntiva causado pelos danos provocados pelo sol. “Estas lesões, chamadas de pinguéculas, muitas vezes, levam à irritação nos olhos e ao ressecamento dos mesmos e podem, eventualmente, prejudicar a visão. Para evitar o aparecimento das pinguéculas, é preciso que o paciente que usa lentes de contato, também use óculos de sol ao ar livre”, recomenda Roberta Velletri.
Por último, é preciso alertar os usuários de óculos de grau também. “Para evitar a compra de mais um óculos, o paciente pode revestir suas lentes com proteção UV, assegurando fotoproteção aos óculos que ele já usa”, informa a oftalmologista.
Fonte:http://www.portaldaoftalmologia.com.br/